Autor: Joaquim Gomes – prof. Membro da AVL
(Ela aparece trajando uma saia comprida e blusa de mangas na altura dos cotovelos. Cabelos curtos, penteados para cima. Olha para os lados, como se quisesse reconhecer aquele lugar e exclama):
“Está tudo mudado. Mudou tudo mesmo. Deus sabe o que faz, parti na hora certa. As novidades são muitas. Sou do tempo que novidade ... novidade meeesmo... era uma televisão pequena, menor que um rádio... chamava tanto a atenção, que muitas pessoas iam lá em casa só pra ver a tal novidade. . (e olha para o lado) ... essas pessoas ... algumas dessas pessoas eu conheço, é verdade, (diz sorrindo). Estão aqui... Geraldo Costa, Nozor, Socorro Serejo, Gracinha, Lourival, quem mais ... quem mais ... ah! Joaquim ... dele eu me lembro que foi lá em casa conhecer a televisão, foi com Rosica, minha sobrinha. Ele também foi meu aluno.
Disseram-me que eu deveria vir aqui. Já estou desde ontem aqui. Fiquei passeando, olhando tudo, atentamente, ouvindo o que falam sobre mim. Aproveitei para ver como é a sala de aula cheia de tecnologia. Muita coisa nova, as novidades são maravilhosas. Espero que os professores e alunos estejam aproveitando e sabendo utilizá-la. Ah, mas no meu tempo, eu também fazia da minha sala de aula um grande laboratório de aprendizagem. Querem saber com quais tecnologias? (Dirigindo-se para a mesa). Pois bem, o globo terrestre, este velho e poderoso amigo, os Mapas, estes não nos deixavam perder a rota. Giz, (com um bastão na mão, erguendo para todos e faz uma pergunta) ainda usam? O bom professor saía da sala com as mãos cobertas de pó de giz, as roupas com as marcas – (diz tudo, com encenação, quebrando um giz e esfregando as mãos na saia) e a Lousa, amiga de criações. Nela cabia tudo. Pois, bem!
Alguns alunos gostavam de rodar o globo, eu deixava, estavam girando a terra e, nessa hora, aproveitava para pedir que escolhesse um ponto, com o dedo indicador, onde parasse. Era desse ponto que a aula começava. Saindo daqui ... (com o dedo no globo), daqui mesmo, de Viana, para o mundo, mas como iríamos, os alunos decidiam, se por terra, por água ou pelo ar. E a cada porto, cada cidade, cada acidente geográfico um mundo de coisas se revelava..., não importava ... se da praia do Olho D’Água de São Luís, ou se do deserto do Atacama, no Chile. “Cuidado com as lhamas, elas cospem, se forem ameaçadas!” Ah! Como foi bom! Eu dizia, não, não faz isso, não copiem, só prestem atenção. E assim andávamos pelos campos verdejantes de Viana, passávamos pelo Mocoroca, pela Ilha de Sacoã e, quando dava, íamos pelo Barro Vermelho. Alguém lembra de qual cidade estou falando, que se chamava Barro Vermelho? Cadê Vitória Santos?! Isso mesmo, Sansão, de Cajari!
Mas, este lugar eu ainda não reconheci. Vou até a sacada. (dirige-se e retorna). O sobrado do Dr. Ozimo de Carvalho. Neste casarão habitou um homem culto e pesquisador. Deixou livros, curou muitas dores físicas. Agora é a Casa do Saber dos Vianenses. Estou entendendo! (Olhando para a galeria dos patronos) Olhem, sou eu ali, na Galeria dos Patronos! Então, é isso, estou na Academia Vianense de Letras – AVL. E vocês fizeram a FLAV para me homenagear? Agora entendo por que voltei! O Eider não quis vir, disse que era uma surpresa só para mim. Muito obrigada a todos vocês, por essa homenagem! Fico agradecida pelo carinho e reconhecimento, pelo meu trabalho como professora de Geografia. Bom, eu preciso voltar... por onde? por onde? quem sabe? E como vou retornar? Não, não é do conhecimento de vocês, nem posso ensiná-los... (olha para todos os lados) e diz, “quem?... quem?... quem vai comigo?” (Nessa hora, ergue o braço direito, acenando com a mão, vira-se de costas, agacha-se, e se cobre com um lenço grande, que trazia na bolsa, ou que estiver ao alcance).
Mín. 16° Máx. 19°