Por Maria Sousa

A ideia de que a escrita do texto criativo advém de uma predestinação, isto é, de um dom especial e que apenas escritores consagrados podem ser autores de textos literários vem sendo desmistificada há muito tempo pelos grandes teóricos da área. Essa prática, se levada de maneira adequada ao mundo do estudante, permite torná-lo aluno-autor, conforme defende Tauveron (2003). Nesse sentido, considerando a função crítica e emancipatória da literatura, o trabalho com o texto literário deve ser uma prioridade da escola, especialmente da escola pública, a qual atua como um espaço de aprendizado acessível e democrático. 

Em um contexto educacional muitas vezes marcado por desafios, incentivar a produção criativa na escola pública é uma maneira de tornar o aprendizado mais significativo, inclusivo e transformador. Vale destacar que o desenvolvimento da escrita criativa pode acontecer tanto por meio de pequenas iniciativas quanto por projetos mais amplos e estruturados como os festivais literários. 

Esses festivais, ao oferecerem um espaço de incentivo, valorização e reconhecimento da escrita criativa, desempenham um papel fundamental na produção de textos literários pelos estudantes. Ao participarem dessas iniciativas, os educandos têm a oportunidade de compartilhar suas produções, interagir com escritores, explorar diferentes gêneros e estilos e perceber a literatura como uma prática viva e acessível. Assim, para a escola pública, esses eventos são ferramentas poderosas para despertar o talento dos alunos, fortalecer sua autoestima e incentivar a expressão de suas ideias e emoções por meio da literatura.

O Festival Literário promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Alto Alegre do Pindaré em 2024 reforçou essa tese ao contribuir para o fortalecimento do ensino da literatura de forma dinâmica e inspiradora, tornando a escrita e a leitura experiências mais envolventes e transformadoras. Os poemas que seguem, finalistas do concurso de poesia que aconteceu no referido festival, atestam que os estudantes têm potencial para se tornarem alunos-autores, desde que lhes sejam dadas as condições adequadas. Esses poemas finalistas tiveram destaque não apenas por aspectos formais, mas também pelo que expressaram e pelo impacto que causaram no público presente. E esse é um dos grandes poderes da escrita criativa. Diante dessa perceptível relevância do festival, Alto Alegre do Pindaré planeja outra edição para, entre outros objetivos, revelar mais talentos da escrita literária na escola pública.

POEMAS DAS ALUNAS PREMIADAS NO FESTIVAL LITERÁRIO DE ALTO ALEGRE DO PINDARÉ, EM 2024:

Saudade 

Mãe! E essa dor que não passa?  

Angústia, aflição e ansiedade...  
Ela aumenta meu medo  
E desperta minha saudade.

Sinto mil facas perfurarem meu peito,  
Meu psicológico abalado;  
Sinto-me sozinha neste lugar:  
Frio, escuro e apertado.

Não acreditei naquele dia,  

Clarisse da Silva Gasparino
O dia da sua partida,  
Em que você nunca mais voltaria;  
Senti-me frágil e desprotegida.

Nossa despedida foi resumida a  
Um "eu te amo" e um abraço,  
Com você deitada em uma cama.  
Ai, que saudade do seu regaço!

Comparo a vida a uma rosa,  
Aparentemente bela e serena,  
Mas seus pequenos espinhos  
Ferem a alma sem pena.  
Sigo sem você, minha mãe,  
Com as lembranças daquela triste cena.

Aluna-autora: Clarisse da Silva Gasparino

Garota dos Olhos Castanhos

Sempre graciosa e suave
 Como a luz do luar
 Seus cabelos ondulados
 Me lembram as ondas do mar

 Seus lábios são macios
 Como pétalas de rosas
 Tem um corpo delicado 
Como de uma boneca bonita, delicada e graciosa

Seus olhos são castanhos
Tem um olhar intenso e profundo
 Acho que me perdi neles de tanto admirá-los

Seu sorriso é belo
Como a primavera
Assim, como tudo o que há, nela

Se eu estiver sonhando
 Peço que me deixe dormir
Pois, meu mundo, ficaria sem graça sem ti

Aluna-autora: Maria Rita Paulo Ferreira

A cor da alma

Em um mundo de cores vibrantes
onde a vida dança em mil tons
por que a pele se torna barreiras?
E o amor se esconde em ilusões?

O olhar que julga e discrimina
esquece a beleza do amor...
se cada raça tem uma história
cada ser o seu valor?

As vozes que gritam por justiça
ecoam em busca da paz                                                           
quebrando as correntes do preconceito
e o caminho que se faz.
                                                                                                                  
Vamos pintar um novo horizonte
 com respeito e harmonia
pois juntos somos mais fortes
e a diversidade é poesia!

Aluna-autora: Íris Lira