
SOBRE OS CONTOS DE DESAMOR
José Neres é membro efetivo da Academia Poética Brasileira e assumirá como Vice-presidente Regional da seccional do Maranhão para o biênio 2026/2028.
Certa vez, Vinícius de Moraes afirmou que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. É verdade, pelo menos em parte. No somatório geral entre encontros e desencontros dificilmente saberemos o resultado geral de nossa equação. Não importa! Recorrendo a outro grande artista brasileiro, podemos nos consolar dizendo, de forma adaptada, que se ganhei ou se perdi, “o importante é que emoções eu vivi.”
Escritora experiente e atenta observadora das realidades circundantes, a professora, pesquisadora, contista e cronista Ceres Costa Fernandes há muito tempo já vem percebendo que esses encontros e desencontros tão comuns no dia a dia podem dar margens à elaboração de boas histórias. Desse modo, após recolher diversos textos escritos em momentos variados, acaba de chegar às mãos dos leitores o livro “Contos de Desamor” (Edições AML, 2025, 168 páginas).
Dona de um estilo leve e que mescla observações da realidade com refinados e sutis toques de humor, Ceres Costa Fernandes demonstra com seus textos que é possível construir personagens que chamem a atenção do leitor sem a necessidade de recorrer a baixarias, aos exageros das diversas violências ou a desnecessários detalhes escatológicos. Os contos do livro podem ser lidos sem reservas por pessoas das mais variadas faixas etárias.
As trinta narrativas que compõem o livro dialogam entre si pelo aspecto da temática que remete à incompletude das relações amorosas, mas não à ausência do Amor. Afinal só podemos falar em desamor se antes houver pelo menos a insinuação de um amor, mesmo que incerto ou mal compreendido. É o que ocorre, por exemplo, no conto “Amigo”, no qual os gostos e desejos das personagens vão se modificando e mostrando quão complexas podem ser as diversas facetas de uma relação amorosa.
As desconfianças, frutos dos desamores que um dia se travestiram de amor, estão presentes em todo o livro, mostrando que as chamadas normalidades dependem muito da situação em que os casais e possíveis desafetos estão inseridos. Voltando literariamente no tempo, é possível divertir-se com a tentativa frustrada de duas damas da alta sociedade em imiscuir-se fantasiadas em um baile carnavalesco onde tudo poderia acontecer.
Por falar em carnaval, é nesse momento momesco que Candinho, personagem de “Amor no Carnaval” vive uma marcante, rápida e quase sobrenatural aventura amorosa e que o icônico Cardosinho se vê em maus lençois ao ser flagrado pela feroz esposa fantasiado de fofão em plena folia Ludovicense.
Foto: Os escritores Ceres Costa Fernandes e José Ewerton Neto, na noite do lançamento do livro.
Além de narrar histórias, Ceres Costa Fernandes também aproveita seus textos para levar o leitor para diversos passeios no tempo e na paisagem histórica da cidade, promovendo um resgate literário de um tempo que já se foi, mas que pode voltar diversas vezes nas páginas de uma ficção fluida e agradável.
No meio de tantos desencontros, marcar um encontro com a límpida prosa de Ceres Costa Fernandes pode ser um alento para enfrentar esses tempos modernos e difíceis. E, depois de alguns minutos mergulhado nos contos de desamor, certamente o amor pela literatura tenderá a se tornar eterno.
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