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Edmilson Sanches: Estado de Pobreza - O Maranhão é ou está?

O jornal "Valor Econômico" (São Paulo) deste 28 de fevereiro de 2024 questiona: "O que leva o Maranhão a ser o estado mais pobre do Brasil"

29/02/2024 às 19h38
Por: Mhario Lincoln Fonte: Edmilson Sanches
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Arte: MHL
Arte: MHL

Mais uma "vitória" de nosso Estado na mídia nacional e internacional, obtida com a indispensável contribuição de sucessivos, bem-intencionados e competentes governantes e governadores, mandatários e mandadores, interessados e interesseiros...

Antes, umas lembranças:

Eu tinha por volta de 15 anos quando passei a adquirir a publicação "Almanaque Abril", a "enciclopédia em um volume", que era anual, da Editora Abril, sediada na capital paulista.

A primeira edição do "Almanaque" saiu no final do ano 1974, e a última, em 2015. Foram mais de 40 edições, que passaram a ter dois volumes a partir do ano 2000. Tenho quase todas as edições, inclusive uma multimídia (a única, pelo que sei), em “CD-Rom”.

Pois bem: no primeiro ou em um dos primeiros números (é possível verificar), o “Almanaque Abril” registrava (cito de memória): “O Piauí, estado mais pobre do Brasil [...]”. 

Nessa época, idos dos anos 1970, eu, rapazote, ficava chateado com a (des)qualificação por meio daquele aposto ou locução substantiva. O Piauí, não só pela proximidade do Maranhão, não só por seu território ter feito parte do nosso Estado (1752—1811), sempre foi um local querido meu, tendo eu residido, brevemente, em Teresina, com breves e bons namoros, na juventude e na adultez, que permanecem inesquecidos... Isso aí e, é claro, reforce-se, a importância histórico-cultural e a influência mútua Piauí—Maranhão, a ponto de uma vez o jornal “O Pioneiro”, de Caxias, ter estampado notícia e foto de carimbo das agência dos Correios da cidade maranhense de Timon como “Timon – PI”. Escrevi artigos em defesa do Piauí quando o presidente da Philips no Brasil, Paulo Zottolo, e um ator à toa de São Paulo, um desconhecido Marauê Carneiro, disseram coisas como: “Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado”, entre outras difamações, delas escatológicas, intestinais.

Nesses vínculos Piauí—Maranhão, saiba-se, mais, que Teresina, a capital piauiense, foi planejada para ser onde está em razão de minha terra natal, a vizinha maranhense Caxias, que, por sua grande movimentação econômica à época, teve influência/importância direta na decisão de localização e construção da “Cidade Verde”, como a denominou o escritor conterrâneo Coelho Netto.

O Conselheiro Saraiva (José Antônio Saraiva), advogado e político nascido na Bahia, transferiu a capital, que era em Oeiras, para Teresina, em 1852 (ano de fundação). Segundo registros da História, o “isolamento” de Oeiras, situada no centro do Piauí, “não conseguia deter a influência comercial e industrial da cidade de Caxias sob boa parte do oeste do estado”. Portanto, reforçam os registros, “a nova capital resolveria um problema que ameaçava a integração do estado: a influência de um crescente polo comercial e industrial no vizinho Maranhão, Caxias”. Então, se Caxias não existisse e não fosse à época tão próspera economicamente, Teresina poderia não estar onde está.

Quanto ao epíteto “Cidade Verde”, ele se referia, na época que Coelho Netto o mencionou, à “juventude” de Teresina, por ser cidade ainda nova, que ainda não tinha muita vivência, que não havia amadurecido enquanto cidade. Depois o título foi apropriado, utilizado (adequadamente) como expressão ambiental, em razão do paisagismo, da arborização da “Capital Mafrense”.

Se claramente eu me indignava com as detratações contra o Piauí, se eu ficava amuado com a classificação desse Estado como o mais pobre do Brasil, intimamente eu até respirava aliviado por não ser o Maranhão a ficar na última colocação.

Agora, as senhoras e os senhores não imaginam a minha surpresa, estupefação, contrariedade quando, ao abrir uma nova edição do “Almanaque Abril”  (ainda vou pesquisar qual), vi que o Maranhão ocupara o lugar, a rabeira ou rabada do “ranking”... E parece que o Maranhão gostou, pois, pelo que eu me lembro, nunca mais foi “reabilitado” na posição  -- em que permanecemos e como, ao menos midiaticamente, se (re)confirma neste final de fevereiro de 2024.

Com a interrupção, em maio de 2009, da versão impressa do jornal “Gazeta Mercantil”, de São Paulo, o “Valor Econômico”, jornal diário fundado em maio de 2000, há quase 24 anos, tornou-se a publicação brasileira de maior referência nacional e internacional no setor econômico  --  é o que, na Imprensa, chamamos de “prestige paper”. Impresso e digitalmente, ainda é assinado e lido por influentes e importantes pessoas, sejam elas um cidadão aposentado ou trabalhador, sejam elas do mundo empresarial ou político, da banca financeira ou das organizações estatais públicas ou privadas.

E o Estado, é ou está pobre? O Maranhão NÃO É pobre. Ele ESTÁ pobre  --  na verdade, ele É EMPOBRECIDO. Em outras palavras, seu definhamento econômico   -- e, com isto, a pobreza de grande parte de nosso povo -- não é uma condição natural, é uma incompetência ou desvontade pessoal, um processo pensado, estruturado para não dar certo, embora esforços e resultados aqui e acolá, os quais, como se vê e se lê, não têm sido suficientes para elevar e levar o Maranhão a posições mais nobres e menos sem-vergonhas, sem brio.

Quando eu era assessor da presidência da maior instituição financeira de desenvolvimento regional da América Latina, em Brasília, encontrei o advogado, professor universitário e político Ciro Ferreira Gomes, que há tempos também prestara serviços à mesma Instituição que assessorei. Ciro havia retornado ao Brasil, depois de um período de estudos nos Estados Unidos, e preparava o lançamento de dois livros, um deles em coautoria com Mangabeira Unger, brasileiro que é professor nos “States”. O Ciro estava na área de eventos do restaurante brasiliense Carpe Diem e, sozinho, organizava mesas para o evento. Eu o vi do quarto andar do apartamento que o Governo Federal cedera pra mim e minha mulher e, (re)conhecendo-o, fui dar uma mãozinha para ele. E aproveitamos para conversar. Ciro me disse, sobre o assunto “Maranhão, estado mais pobre”, como as terras maranhenses são ricas, a ponto de, especificou ele, “lá no Ministério, quando eu era ministro [da Fazenda, em 1995, e da Integração Nacional, 2003/2006], ouvia o Maranhão ser chamado de ‘o Paraná do Nordeste’”, por essas qualidades edafológicas e muitas outras, além de, sua riquíssima história e cultura -- importante, exuberante, sobrante.

Mais ainda: Ciro escarafunchou a memória e contou-me: “Aprendi a ter curiosidade e a gostar do Maranhão desde criança. Lá em casa, em Sobral [CE], meus pais regularmente recebiam amigos, conhecidos e pessoas do município e região, que iam se despedir deles. Eu ouvia muitas dessas pessoas dizerem que, por causa da seca no Ceará, estavam se mudando para o Maranhão”.

Essa migração de levas e levas de cearenses para o Maranhão tem registro até na letra da conhecida música “De Teresina a São Luís”, do disco LP “Ô Véi Macho”, lançado em 1962 por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. A letra do maranhense de Pedreiras João do Vale revela em 11 estrofes (incluindo-se o refrão) a intimidade do autor com aquele percurso ferroviário entre as capitais do Meio-Norte brasileiro  --  percurso de trem que tanto fiz ainda na minoridade e memorizei nomes evocativos e exóticos das estações, como Urichoca, Aarão Reis, Cristino Cruz, Carema... Cinco cidades maranhenses  -- São Luís, Caxias, Codó, Coroatá e Pedreiras – são citadas na letra de João do Vale. A migração cearense para o Maranhão está na sétima estrofe:

“Alô, Coroatá,

Os cearenses acabaram de chegar.

Meus irmãos, uma safra bem feliz”.

 

Portanto, seja na música e sobretudo nas condições de clima e solo, de localização estratégica (excepcional porto com vantajoso acesso marítimo aos Estados Unidos, à Europa e à Ásia), nunca foi e não é por falta de potencial econômico, de vantagens comparativas e competitivas, que o Maranhão não tenha saído desse praticamente permanente estado de pobreza.

A pobreza, digo-o, está na secundarização dos urgentes e ingentes esforços, cotidianos, no planejamento e consequentes ações de/para o desenvolvimento. Está no latifúndio das desvontade, no laboratório das mentes de maus maranhenses (com as muitas exceções de sempre, graças a Deus), sobretudo daqueles conterrâneos que, com poder de mando ou com mando no Poder, transformam a nobre arte, ciência e técnica da Administração Pública em uma prática de “DESENVOLVIMENTO DA POLÍTICA” e não em projeto de “POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO”.

“Desenvolvimento da política”  -- que não é nem será o mesmo que “Política de desenvolvimento” --  tem a ver com o exercício de práticas de interesses majoritariamente pessoais, grupais, familiares e partidários, para busca, obtenção, fixação, ampliação e manutenção ou continuidade no Poder, relegando-se à subalternidade, ao não protagonismo, o que seria a luta diária contra a pobreza, a inserção econômica expressiva do Estado e de seu Povo no concerto dos Entes Federativos brasileiros, onde ainda o Maranhão é nota dissonante.

 

E “Política de desenvolvimento”, está óbvio, é um projeto e são processos que, transformados em ações e em realidades positivamente transformadoras, façam o Estado adquirir sustento, sustentação e sustentabilidade socioeconômica; façam o Estado atingir estágios gradualmente mais elevados de crescimento, progresso e, por que não?, de felicidade humana. Temos direito a isso  --  quem nega?

Quando eu trabalhava em alto posto na sede de instituição financeira estatal em Fortaleza, pude confirmar certas verdades, certas realidades que a vontade, a decência e o trabalho constroem. Se eu convidasse algumas pessoas para ganharem dinheiro plantando flores no Ceará, é possível que os investidores se sobressaltassem: “Ficou louco, Sanches! O Ceará não tem água nem para gente beber, imagina para gastar com plantio de flores!...”

Sim, sabemos que sobre o Ceará “explode” o tempo todo a inclemente “bomba atômica” do Sol astro-rei. Mas, alguém aí não sabe?, o Ceará é O MAIOR exportador de rosas do Brasil e O SEGUNDO MAIOR exportador de flores deste nosso País!

Visitei 18 Estados brasileiros. Fui recebido em pistas de aeroportos, à porta do jatinho que me conduzia, por empresários, gentes do agronegócio e outros empreendedores. Pude testemunhar, e em alguns casos documentar, exemplos belíssimos, tocantes, do quanto conhecimento, investimento, trabalho e honestidade podem mudar, sur-pre-en-den-te-men-te, um lugar, uma região. Em Janaúba e Montes Claros, na região do famoso “Polígono das Secas”, em Minas Gerais, pude ver e conversar sobre bananicultura de exportação, atividade preponderante à época naquela parte do norte mineiro. No mesmo quente torrão nordestino, na baiana Juazeiro e na pernambucana Petrolina, plantaram-se uvas e outras frutas “chiques”. Como?! Uva não é só em climas frios! Pois bem, dizem os técnicos, o sol nordestino ajuda muito, “dosando” o que há de líquido e o que há de doce nas bagas das videiras dos parreirais. Mudança!

Em Mossoró e Baraúnas, no Rio Grande do Norte, pude constatar a transformação de uma região antes usada para agricultura de subsistência em região de plantio e exportação (para o Exterior, mesmo) de frutas de primeiríssimo nível. Eu mesmo fui convidado a entrar em um enorme armazém-frigorífico onde as frutas (em especial o mamão “papaya”) ficavam acondicionadas em caixas, para, no momento certo, serem vendidas para outros países. Eu, brasileiro orgulhoso, convicto e romântico, ficava com certo enlevo ao ver e ler nas caixas a híbrida inscrição  -- “MADE IN BARAÚNAS” --, onde o inglês não pôde anglicizar a língua brasílica, a língua geral meridional, de matriz no tupi.

Em Limoeiro do Norte (CE), no Distrito Irrigado Jaguaribe-Apodi (DIJA), em uma parte das terras, pude ver, entre outros, tomates grandes e vermelhos e alfaces verdes e grandes; e, na parte das terras vizinhas daquelas, o solo esturricado, crestado, rachado... porque os investimentos adequados e suficientes ali não chegaram para, entre outras coisas, financiar a irrigação por gotejamento, onde lágrimas de água planejadamente caem e tornam produtivo o solo, pois para ele só estava faltando o precioso líquido que fazia liberar todo os ingredientes de fertilidade misturados àquela terra dura e aparentemente estéril.

 

Relatei alguns desses (bons) exemplos em textos que há décadas escrevi para revistas de circulação dirigida, como a “Rumos do Desenvolvimento”, da Associação Brasileira de Bancos de Desenvolvimento (ABDE, Rio de Janeiro), e a técnica “Revista Econômica do Nordeste – REN”, com indexação internacional, de responsabilidade do especializadíssimo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE/BNB (Fortaleza – CE), órgão onde (man)tive preparadíssimos Colegas de Instituição.

Se em terras que parecem estar com todas as pré-condições para nelas nada vingar, as coisas vingam, dão certo, por que há séculos ou décadas não se tentou uma agricultura de altíssima qualidade, não apenas para exportação, mas também ou sobretudo para o aproveitamento industrial, com maior agregação de valor?

Em Buriticupu (MA), disseram-me da produção de abóboras do município. Sim  -  disse-o eu em palestra na Câmara Municipal de lá --, e por que não começar a pesquisar outras possibilidades desse fruto? Em vez de só vender abóboras, e após as devidas pesquisas científicas e ações de “marketing”, por que não produzir e vender doces, compotas, picolés, sorvetes, bolos e, a partir dos princípios ativos da abóbora, produzir e vender medicamentos fitoterápicos? O que impede? Achem sua forma de plantar flores em solo seco, e se darem bem com isso!

Pessoas e tapetes precisam ser sacudidos  -- para sair o barro do conformismo, para espanar a poeira da visão, para retirar o grão de areia dos olhos...  

C’os diabos! Quem atravessará o Rubicão maranhense! Quem gritará “Alea jacta est!”? Quem ousará a guerra definitiva (é pedir muito?) contra o atraso?

Sobre esse assunto da pobreza maranhense, não vou nem posso transcrever a reportagem do jornal “Valor Econômico” e outras matérias jornalísticas que estou recebendo. É um escoadouro quase sem fim de palavras e números e interpretações sobre essa “débâcle” do Maranhão. De qualquer modo, não é para causar satisfação e orgulho o quadro “pintado” pela Imprensa, cujos dados (oficiais) mostram que, dos quase sete milhões de maranhenses, mais de oito por cento deles vivem com menos de 200 reais por mês... E que outros 58% vivem com renda que vai dos 200 reais aos 687 reais por mês... Ou que, na média, cada um dos 6.775.805 maranhense tem renda de 637 reais mensais (dados de 2023).

Destaques negativos assim, a respeito do Maranhão, não são os primeiros, não são únicos, não serão os últimos. Evidentemente, pessoas e institutos de pesquisas e até a Imprensa não são Deus, infalíveis ou perfeitos. Com certeza, o fato de muitos maranhenses não terem maior renda no bolso não significa não terem comida na mesa. Alguns dados podem e devem ser relativizados. Mas há uma constatação contra a qual é difícil brigar: sopesados os fatos e as versões, as perguntas e as respostas, as culpas e as desculpas, o Maranhão não é rico  --  e, talvez, nem “remediado”. É um Estado empobrecido. E pronto.

Admitir nosso estado de carência socioeconômica, e subsidiar isto com os dados mais reais possíveis, é um dos primeiros passos para a análise do(s) problema(s), definição de estratégias, adoção de práticas e busca dos  -- melhores --  resultados.

Alguém tem de saber que mudanças não são só um caminhão que carrega móveis. Repita-se a cantiga de grilo nos ouvidos muitas das vezes moucos de gestores públicos: O PROBLEMA DE UMA ADMINISTRAÇÃO NÃO É O GOVERNO SEM DINHEIRO  --  É O DINHEIRO SEM GOVERNO...

Conta-se uma historinha que diz que Deus e São Pedro passeavam pela Terra. O Criador vistoriava o planeta antes de fazer os seres humanos. Quando passaram pelo Japão, São Pedro não disfarçou sua estranheza ao ver um país de terras não muito produtivas, irregulares, vulcânicas, montanhosas etc. Quando chegaram às terras do Brasil, aí São Pedro não se conteve e, respeitosamente, indagou: “ – Senhor Deus, passamos por um país com terras poucas e de pouca qualidade; e agora, no Brasil, vejo terras vastas, férteis... Por que isso, meu Senhor?” E Deus responde, sábio e caridoso: “—Espere pra ver o tipo de gente que vai ocupar o Brasil...”

Mas não podemos ficar a depender da boa Graça Divina... Preparemo-nos: Deus não gosta de guerra, mas fica do lado de quem atira bem... Façamos nossa parte, pois, como se diz, confia em Deus, mas amarra teu cavalo...

As recentes reportagens nacionais sobre desvios, no Maranhão, de MAIS DE UM BILHÃO DE REAIS, dinheiro da EDUCAÇÃO, por um pequeno conjunto de prefeitos menores ainda dão a medida do quanto de qualidade administrativa, de compaixão social, de decência humana, de respeito, de integridade, falta a esses (ir)responsáveis que foram eleitos e com os quais cada eleitor deles acreditou ter assinado um contrato de esperança e expectativa de realizações e melhorias -- que nunca vieram, nunca vêm e, pelo visto, dificilmente virão.

Não adianta eleger quem não rima “competência” com “honestidade”  -- palavra esta cada vez mais gasta no mundo político, pois não é com honestidade que se fazem “negociações” nem se vencem eleições. Nunca foi. Porque POLÍTICO QUE NÃO É CORRUPTO NÃO É CONFIÁVEL. Não adianta ser “líder”, ter estrutura partidária, ter dinheiro para a campanha, ter formação acadêmica, ter experiência administrativa se isso não se aguenta na falta de honestidade. Tudo desaba  --  geralmente, em cima dos mais fracos. Sabe-se que política não é local de santos, que ela não fornece passaporte para o céu, mas, convenhamos, a “coisa” virou uma geleia geral, que torna um inferno de necessidades a vida dos que, como cães, esperam cair sobras, ossos da mesa dos comensais...

Dizem que certa vez o senador Henrique de La Rocque Almeida (1912—1982) esteve em João Lisboa, município sul-maranhense. Durante a visita, recebeu um jovem que lhe pediu aconselhamento porque queria “entrar na política”. La Rocque  -- cujo nome foi dado em 1994 a um município vizinho a João Lisboa --  teria perguntado ao jovem aspirante:  “—Você venderia sua mãe?” Ante a negativa do moço, La Rocque orientou, curto e definitivo: “—Então, saia da política...”

O que se procura e o que se quer, nessa tal de “Pulítica” é o político “arteiro”, “malandro”, “jeitoso” (claro, tudo sob aparência de seriedade e interesse social). Poderia transcrever aqui manchetes geradas pelos relatórios da Controladoria Geral da União (CGU) sobre corrupção  -- e apenas com o dinheiro federal --  em prefeituras, Estados e na própria União. Poder-se-ia também transcrever o que diz outro órgão federal, o Tribunal de Contas da União (TCU). É tudo um sumidouro, um lamaçal só. E tudo ligado a tramoias e maracutaias de políticos eleitos por nós, com o conluio, é claro, de outros agentes... Ninguém é corrupto sozinho.

Brasileiros pobres têm sido mortos pelo poder (fatal) da pobreza por causa da pobreza (ética) do Poder. É uma mortandade quotidiana que não sei como não “toca” os sentimentos dos que se julgam intocáveis. E a montanha de dinheiro roubado e noticiado é só um pouco da cordilheira criminosa de apropriações indébitas, de surrupiamentos descarados. A maior parte da corrupção não é vista, não é descoberta. Os bilhões que se sabe que foram roubados são resultado da corrupção que deu errado, da roubalheira que deixou digitais. São roubos de bandidos políticos e de políticos bandidos que não leram, ou não cumpriram, o décimo-primeiro mandamento: “Não serás pego”

E os políticos, como é que já se mostram este ano, com as eleições de outubro de 2024, e já se arrumando para 2026? Cada um mostra-se com aquele mesmo modo ladino, espertalhão, tinhoso. Cada um adora ser reconhecido na “Pulítica” como “o que sabe das coisas”.

É o famoso “macaco velho”.

É a velha “cobra criada”

Afaste-se desse zoológico...

E obedeça o aviso:

“Não alimente esses animais”.

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E. Sanches

EDMILSON SANCHES

Palestras – Cursos – Consultoria

Administração / Comunicação / Desenvolvimento / História / Literatura

CONTATO: [email protected]

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Sobre Edmilson Sanches é um dos intelectuais brasileiros mais aplaudidos em diversas áreas da literatura contemporânea. É jornalista, consultor, palestrante, editor, bacharel em administração pública e licenciado em letras.
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