Editoria econômica do Facetubes
O mercado brasileiro de bens e serviços enfrentou, nos últimos três meses, um cenário de moderada desaceleração inflacionária, mas sem que isso se traduzisse em alívio significativo ao poder de compra das famílias. De janeiro a abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de cerca de 1,44%, com 0,43% apenas em abril, menor patamar para o mês desde 2023. Mesmo assim, a inflação no ano soma 2,48%, corroendo parte dos salários reajustados no período. Em meio ao quadro de estagflação – crescimento do PIB de apenas 0,3% no primeiro trimestre –, muitos consumidores mantiveram a postura de cautela, adiando compras consideradas supérfluas e privilegiando itens essenciais como alimentos e medicamentos.
Nesse contexto, setores culturais e de tecnologia registraram comportamentos díspares. O mercado livreiro continuou em retração de vendas físicas, reflexo da redução geral da massa salarial real, que afeta diretamente o consumo de livros, filmes em mídia física e até mesmo de produtos de informática. Levantamentos do setor editorial apontam nova queda nas vendas de livros impressos em 2024, sinalizando que a inflação deve ter pesado na decisão de compra de boa parte do público. Por outro lado, o segmento digital mostrou resiliência: o faturamento de e-books cresceu 17% em termos reais no ano passado, impulsionado pelo modelo à la carte e pela ampliação de bibliotecas e plataformas virtuais que facilitam o acesso a títulos — um movimento que ganhou força à medida que o brasileiro busca opções de lazer com custo mais controlado.
Olhar para o futuro, contudo, traz perspectivas mais otimistas. Analistas de tecnologia projetam que o mercado de TI no Brasil crescerá cerca de 13% em 2025, puxado pela demanda corporativa por notebooks e equipamentos para home office, o que pode estender o ciclo de renovação de produtos de informática. No segmento editorial, especialistas avaliam que o segundo semestre pode registrar recuperação gradual das vendas físicas, apoiada em eventos como feiras de livro e no fortalecimento de iniciativas de fidelização de leitores — sobretudo em livrarias independentes que apostam em curadoria e experiências culturais. Além disso, o campo digital segue em expansão: espera-se que o mercado de e-books e audiolivros continue crescendo em ritmo superior à média global, beneficiando autores e editoras que investirem em formatos multimídia e distribuição por assinatura.
E AS BANCAS DE JORNAIS?
As bancas de jornal e revista no Brasil vêm passando por forte retração nas últimas décadas. De acordo com estudos setoriais, o país tinha cerca de 30 mil pontos de venda de publicações em 2006, número que caiu para algo entre 12 e 13 mil em 2018, uma retração de quase 60%. Em São Paulo, especificamente, o total de bancas encolheu 17% entre 2009 e 2019, chegando a pouco mais de 2,300 unidades. Para driblar o declínio, muitos jornaleiros diversificaram o mix, agregando produtos como conveniência, artigos de telefonia e brindes; já o leitor migrou em massa para assinaturas digitais de jornais e revistas, aplicativos de notícias e, cada vez mais, para as redes sociais como fonte primária de informação. Essa transformação evidencia a urgência de modelos de negócio que integrem o impresso e o digital para manter viva a tradição das bancas como ponto de cultura e convivência.
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Fontes:
Agência de Notícias IBGE, “Em abril, IPCA fica em 0,43%”, 09/05/2025 Agência de Notícias - IBGE
Folha de S.Paulo, “Inflação desacelera a 0,43% em abril; alimentos e remédios pressionam”, 09/05/2025 Folha de S.Paulo
Gazeta News, “Estagflação à Brasileira: O Dilema Econômico que Trava o Crescimento e Corroí o Poder de Compra”, 07/05/2025 GazetaNews
PublishNews, “Venda de livros cai mais uma vez no Brasil; mercado editorial faz balanço da crise”, 30/04/2025 Câmara Brasileira do Livro
IDC (via IT Forum), “IDC prevê 13% de crescimento para o mercado de TI brasileiro em 2025”, 13/02/2025 ITForum
PublishNews, “Bibliotecas e plataformas virtuais impulsionam números do livro digital no Brasil”, 24/05/2024 PublishNews
Estúdio Nanquim, “Banca de jornais e revistas: estatísticas históricas e transformações”, 29/09/2019 NANQUIM.com.br
Guilherme Smee, “Bancas de revistas: espécie em extinção”, LiteraturaRS, 07/03/2024 literaturars.com.br