Domingo, 15 de Junho de 2025
10°C 18°C
Curitiba, PR
Publicidade

CARLO ANCELOTTE: conheça os segredos que ele guarda a sete chaves, desde a Escola Italiana ao futebol moderno

Em tempo: Ancelotti não virá sozinho para a Seleção brasileira. Trará como auxiliares, Pepe Guardiola e Arrigo Sacchi, campeão pelo Milan (final dos anos 80).

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario LIncoln
17/05/2025 às 11h44 Atualizada em 19/05/2025 às 17h45
CARLO ANCELOTTE: conheça os segredos que ele guarda a sete chaves, desde a Escola Italiana ao futebol moderno
Os treinadores “fora da casinha”, leem muito e aprendem com osoutros bons treinadores. Essa é amelhor tática. (Fotos: divulgação). arte: MHL

Por Mhario Lincoln*, editor sênior da Plataforma Nacional do Facetubes

(Parte II)

“Não sabia que para ser jóquei era necessário ter sido cavalo”, Sacchi

 

 

Continuando minhas pesquisas, folgo em dizer que Carlo Ancelotti (o Carlleto) sempre foi estrategista. Sempre olhou na frente. Lembra-se que o Real Madri, mesmo saindo perdendo no primeiro tempo, avançava e virava, muitas vezes, no segundo tempo. Ou seja, visão de jogo. Estudo detalhado de onde estava o ponto fraco do adversário. Mas isso não foi intuito, nem simplesmente "dom". Foi muita leitura. Muito estudo. E eu pesquisei os livros que ele se baseia para transformar seu time em uma onzena vencedora. Veja:

 

 Futebol Total: Minha Vida Contada a Guido Conti – Arrigo Sacchi (2015). Se há um mentor que Ancelotti sempre exalta, é Arrigo Sacchi. Sacchi revolucionou o Milan no final dos anos 1980 com um estilo de pressão alta, defesa em linha e jogo coletivo que ficaria conhecido como “futebol total”

 

Ancelotti foi volante daquele time lendário e posteriormente auxiliar de Sacchi na seleção italiana. Em entrevistas, ele não esconde a influência: “taticamente, minha referência é Sacchi... Sacchi continua sendo para mim o número um”.

 

No livro autobiográfico de Sacchi – Futebol Total – o técnico detalha essa filosofia inovadora, como a primazia do sistema sobre o indivíduo (nas palavras de Ancelotti: “Era o sistema de jogo que conduzia o time”). A famosa máxima de Sacchi: “Não sabia que para ser jóquei era necessário ter sido cavalo”, defendendo que um treinador não precisa ter sido grande jogador. Ancelotti absorveu esses conceitos: seu Milan dos anos 2000 também valorizou a compactação e o trabalho coletivo herdados de Sacchi.

 

No entanto, como o próprio Carletto admite, aprendeu a flexibilizar esses dogmas (graças a Zidane). Ainda assim, o legado tático de Sacchi é um alicerce da mentalidade de Ancelotti – e certamente pesa na expectativa de que a Seleção jogue de forma organizada, equilibrando talento brasileiro com disciplina tática europeia.

 

Capa/Google livros.

Outro livro, "A Pirâmide Invertida" – Jonathan Wilson (2008). Este best-seller sobre a evolução tática do futebol mundial não foi citado em muitas entrevistas de Ancelotti, mas é reconhecido como leitura fundamental para técnicos de ponta. A edição em português destaca que “A Pirâmide Invertida” é leitura obrigatória para analistas, técnicos e torcedores interessados em compreender o que acontece além do campo

 

O livro traça a história das formações e estratégias – das origens defensivas às inovações ofensivas modernas – mostrando como cada geração de treinadores inspirou a seguinte. Para um técnico experiente como Ancelotti, obras assim fornecem perspectiva histórica: ele próprio vivenciou mudanças de paradigma (jogou no 4-4-2 de Sacchi, mas depois precisou abraçar esquemas com meia-ofensivo na Juventus).

 

O conhecimento amplo das táticas ajuda a explicar por que Ancelotti é hoje considerado ecumênico em estilos – capaz de montar times ofensivos ou reativos conforme a necessidade. Se por acaso, realmente, comandar o Brasil, diante de tantos imbróglios e sustos, essa versatilidade tática, reforçada por leituras como a de Wilson, permitirá a ele combinar a malícia tática europeia com a criatividade brasileira, adaptando-se tanto a adversários da Copa do Mundo quanto às características únicas do jogador brasileiro.

 

Olha só! Detalhe importante: Carlleto se aprimora indo buscar conhecimento também de adversários (no campo). Eu sempre digo - por outro lado - que ninguém é poeta sem ler outros poetas. Ninguém pode ser um bom profissional se não for buscar e estudar como agem outros bons profissionais. Parece que esse é o lema dos Homens vencedores. Entenda: Carletto leu e "aprendi muito", como disse, com o livro Guardiola Confidencial – Martí Perarnau (2014).

 

E por que isso? Acho que posso explicar: enquanto Sacchi (seu ex-treinador no Milan gigante, no final dos anos 1980) representa a velha escola italiana na formação de Ancelotti, Pep Guardiola simboliza a vanguarda que ele teve de enfrentar – e estudar. Entendeu?

 

Portanto, não é "frescura" se ir em busca de algo "diferente", estudá-lo e adaptá-los às conveniências pessoais. No livro Guardiola Confidencial (título no Brasil; no original Pep Confidential), o jornalista Martí Perarnau acompanhou Guardiola durante uma temporada no Bayern de Munique, revelando em detalhes sua metodologia obsessiva por posse de bola e pressão pós-perda. A obra é valorizada por oferecer “uma visão inédita dos bastidores do trabalho de 'Pep' revelando detalhes sobre sua metodologia e filosofia de jogo”.

 

E veja o que veio a acontecer: Ancelotti sucedeu Guardiola no Bayern em 2016, e embora tenha um estilo diferente (mais “tranquilo” e menos dogmático que 'Pep'), certamente tinha conhecimento das práticas do catalão. Livros como este, do Pepe e do Sacchi, mostraram a Ancelotti novas fronteiras do treino, desde análise minuciosa de adversários até inovações táticas (como o falso nove).

 

É provável que ele tenha tirado lições sobre intensidade nos treinos e adaptação ao elenco – afinal, Perarnau destaca como 'Pep' adapta estratégias conforme as características dos jogadores.

 

Portanto, caso realmente Ancelotti assuma a seleção e sem o deplorável "bairrismo" dos radicais, deve trazer para o Brasil, na bagagem, também esse contato 'indireto' com Guardiola: ele sabe que no futebol moderno é preciso considerar cada detalhe e, ao mesmo tempo, manter os jogadores motivados e engajados com a estratégia – algo em que tanto 'Pep' quanto Carlo, cada um ao seu modo, obtiveram sucesso.

 

Na semana que em publico a Parte III. Obrigado por ler. E se der, façam um comentário. Ficarei feliz em saber se concordam comigo. Abs.

 

Para ler o capítulo (I) desta história. Clique nesse LINK, abaixo:

https://www.facetubes.com.br/noticia/6473/carlo-ancelotti-e-seus-livros-de-cabeceira-na-jornada-ate-a-selecao-brasileira-cap-i

 

Mhario Lincoln é editor-sênior da Plataforma Nacional do Facetubes (www.facetubes.com.br).

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Lenium - Criar site de notícias