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Viceversa traz a presença carismática da Rainha do Cordel, a poetisa Esmeralda Costa

Esmeralda Costa, da Academia Poética Brasileira, abriu o jogo e conta tudo sobre vida e sua poesia. Ela também entrevista o jornalista e poeta Mhario Lincoln. Uma bela página literária.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: ESMERALDA COSTA & MHARIO LINCOLN & ESMERALDA COSTA
02/06/2025 às 14h42 Atualizada em 02/06/2025 às 17h09
Viceversa traz a presença carismática da Rainha do Cordel, a poetisa Esmeralda Costa
Esmeralda Costa & Mhario Lincoln

 

 

ESMERALDA COSTA & MHARIO LINCOLN & ESMERALDA COSTA

VICEVERSA@ é marca registrada da Plataforma Nacional do Facetubes

Esmeralda Costa e o Cordel como Ato de Fé, Amor e Resistência

Entre os ecos do silêncio que um dia habitou os conventos e a sonoridade viva da poesia rimada, brota a voz firme e delicada de Esmeralda Costa — professora, cordelista, mulher de fé e guerreira da palavra. Sua trajetória, marcada por espiritualidade, escuta atenta e um amor  pela educação popular, traduz-se hoje em versos que tocam, educam e resistem.

Ex-freira, educadora de alma e poeta de missão, Esmeralda encontrou na Literatura de Cordel uma forma luminosa de unir o sagrado e o cotidiano, a memória e a esperança. Com coragem, segue mantendo viva essa arte tradicional do cordelismo.Vale dizer que foi durante a pandemia, incentivada por seu confrade de APB, Pedro Sampaio, e, claro, no recolhimento imposto pelo medo e pela incerteza, que a poetisa reencontrou sua voz. Do isolamento, nasceu “Quarentena”, e com ele, uma nova consciência de sua vocação poética. De lá pra cá, sua produção literária ganhou corpo e propósito, abordando desde a criação do mundo em “Gênesis”, até a resistência histórica de figuras como Bárbara de Alencar, em cordéis que transformam passado e fé em matéria viva de reflexão e pertencimento.

Nesta entrevista exclusiva à seção VICEVERSA, Esmeralda fala sobre a força do cordel na formação de leitores críticos, seus sonhos de expandir a literatura popular para novos palcos — físicos e virtuais — e reafirma: "educar é um ato de amor, e o cordel, sua forma mais bela de entrega".

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1. Mhario Lincoln - Professora Esmeralda, sua trajetória é marcada por fé, poesia e resistência. Como sua experiência como freira influenciou sua visão sobre educação e literatura popular?

ESMERALDA COSTA - Minha vivência como freira ensinou-me a importância do silêncio, da escuta e do cuidado com o outro. Apesar de ter percebido que aquela não era minha verdadeira vocação, levo sempre comigo os aprendizados daquele tempo. A fé continua sendo uma base forte na minha vida, e isso transborda na forma como trato as pessoas no meu dia a dia, no ato de educar e claro, também nos meus escritos. A educação, pra mim, é um ato de amor — e o cordel é um instrumento precioso pra ensinar com leveza, beleza e profundidade.

 

2. Mhario Lincoln - Você tem se dedicado com coragem à difícil missão de manter viva a literatura de cordel, muitas vezes sem apoio institucional. O que a move a continuar nesse caminho, mesmo diante dos obstáculos?

ESMERALDA COSTA - O que me move é o amor. Amor pelo povo, pela cultura, pela arte, pela literatura. Cada criança que se encanta com um cordel, cada jovem que descobre sua identidade através da poesia, me dá forças pra continuar. O cordel é resistência, é voz, é memória. Mesmo sem apoio, sigo firme porque acredito no poder transformador da literatura de cordel.

 

3. Mhario Lincoln - Em um tempo de consumo rápido e distrações digitais, como você vê o papel do cordel na formação de leitores e cidadãos críticos, especialmente entre crianças e jovens?

ESMERALDA COSTA - O cordel, com sua linguagem acessível e ritmada e metrificada, é uma porta de entrada poderosa para a leitura. Ele atrai, diverte, ensina — tudo ao mesmo tempo. Em sala de aula, vejo como ele desperta o interesse dos alunos, promovendo debates e fortalecendo a autoestima. O cordel educa de forma sensível e crítica, e isso é essencial num mundo tão acelerado.

 

4. Mhario Lincoln - Já premiada e reconhecida em seu meio, que sonhos ainda deseja realizar com sua arte e que caminhos enxerga para levar o cordel a novos públicos?

ESMERALDA COSTA - Tenho muitos sonhos, sim. Um deles é levar o cordel para espaços onde ele ainda não chegou: teatros, bibliotecas virtuais, podcasts, rodas de conversa em empresas e universidades. Quero também publicar mais livros e formar outros educadores nessa arte. O bom da literatura de cordel é que ela pode dialogar com todos os públicos, e o meu papel enquanto cordelista, é ajudar a abrir esses caminhos.

 

5 Mhario Lincoln - Como Esmeralda Costa nasceu pra o universo da poesia, é verdade que o período da pandemia contribuiu pra nascer a Poetisa?

ESMERALDA COSTA - Sim, é verdade. A pandemia foi um tempo de recolhimento e também de renascimento. Foi ali, no silêncio do isolamento, que reencontrei a poesia que habitava em mim desde a infância. Recebi de um amigo o edital de um concurso intitulado "Sentimentos na Pandemia", senti-me tão atraída pelas palavras que constavam no edital que falei: - Vou me inscrever! Porém, eu não acreditava que seria capaz de compor poemas e o meu amigo Pedro Sampaio, hoje confrade e parceiro em muitos trabalhos, já havia enxergado em mim a sensibilidade poética e motivou-me, bastante, e eu consegui escrever em pouco tempo o soneto Quarentena, fiz minha inscrição e então deu tudo certo. 
O cordel Gênesis, A Criação do Mundo, nasceu nesse tempo, como um sopro de esperança e fé. A poetisa que sempre viveu em mim encontrou, enfim, sua voz.

 

6.  Mhario Lincoln - Seu trabalho passeia pelo Sagrado a exemplo do Cordel Gênesis, pela história do protagonismo como Bárbara A Heroína pra não esquecer a Confederação do Equador. Como é traçada essa vertente?

ESMERALDA COSTA - Essa vertente nasce do meu compromisso com a memória e a espiritualidade. O Sagrado é minha essência, e a história é minha missão.  Ao escrever sobre o sagrado, lembro que além de humanos, somos divinos, porque fomos criados por um Ser Divino e é a Ele que pertencemos. Eu acredito que escrever é também um ato de justiça, de fazer lembrar quem fomos e quem somos. Bárbara de Alencar, Padre Mororó, todos esses nomes precisam continuar vivos. E o cordel é uma forma linda de eternizá-los.

 

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Profa. poeta e cordelista Esmeralda Costa.

1 Esmeralda Costa – Mhario Lincoln, sua obra transita entre a poesia, o jornalismo, o romance, o direito e a música. Como essas áreas se interligam na sua trajetória e influenciam sua produção literária?

Mhario Lincoln: Minha caminhada foi traçada com muitos sacrifícios pessoais. Começou com a disputa familiar. Meu pai me queria advogado; minha mãe, jornalista. Aí minha primeira e decisiva escolha: fiz as duas Faculdades. Isso, no fundo, veio-me auxiliar muito. Ganhei mais acesso à palavra, à escuta e ao compromisso com a verdade. Desta forma, cada área que abracei – seja no direito, onde aprendi o valor da justiça; na música, que me ensinou a harmonia; no jornalismo, que exige responsabilidade; ou na poesia, que me permite sonhar – contribui para o todo que sou. Bom salientar, ainda, que não escrevo como quem foge da realidade, mas como quem a transforma com as ferramentas da linguagem. Hoje encaro meu ofício de escritor como uma missão de unidade entre a razão e a sensibilidade.

 

2 Esmeralda Costa– Sua obra INA – A Violação do Sagrado trouxe à tona um naufrágio de grande relevância histórica. O que o motivou a escrever sobre esse tema e como foi o processo de pesquisa?

Mhario Lincoln: Esse livro nasceu do silêncio que gritava há décadas. O naufrágio do navio Huyndai New Word, o terceiro maior graneleiro do Mundo,  nas águas de São Luís-MA, foi um desafio muito grande. Foram 10 anos de pesquisa e mais para preparar a obra que resgatou uma tragédia que permanecia calada na memória coletiva.  INA - A Violação do Sagrado não é só um livro: é um documento histórico que servirá de base para estudos posteriores sobre meioambiente e segurança da navegação marítima.

 

3 Esmeralda Costa – "Vampiros de Areia" explora o lado sombrio da existência humana. O que o fascina nesse tema e como você equilibra a escuridão com a beleza da arte?

Mhario Lincoln: A arte é luz, mas ela precisa, às vezes, necessário se faz atravessar as sombras para encontrar o Homem. O mal não me fascina, mas me inquieta. Como escreveu Epicteto, “não são os acontecimentos que nos perturbam, mas a forma como os interpretamos”. A dor, o desespero, a crueldade são realidades humanas que precisam ser nomeadas, enfrentadas. Mas, apesar disso, elas são muito mais entretenimentos do que a linha - de causa e efeito- no que tange exemplos ou limitações humanas. Ou seja, essa obra minha do gênero Literatura Fantástica não é fim em si mesma. Apenas exercicios literários ou passagens de aprendizado com o estilo. 


4 – Esmeralda Costa - Como surgiu a ideia de fundar a Academia Poética Brasileira e qual tem sido o impacto dessa instituição na valorização da poesia no Brasil?

Mhario Lincoln: A ideia da Academia Poética Brasileira nasceu da certeza de que a palavra tem poder de cura, elevação e reconstrução. Quis reunir vozes que, como a minha, acreditam que poesia não é ornamento: é instrumento de transformação. Fundar essa instituição foi como plantar uma árvore no deserto — exigiu fé, resiliência e amor. Hoje, a APB é um solo fértil onde novos e antigos talentos germinam, sem distinção. Dela brotam versos, projetos sociais, movimentos culturais e o sentimento de pertencimento poético ao Brasil e suas gentes líricas. Isso me deixa muito feliz.


5 Esmeralda Costa – O portal Facetubes, criado por você, é uma fonte riquíssima de informações, notícias, conhecimentos, música e entretenimento. Quais são os principais desafios que você enfrenta para mantê-lo ativo e relevante no cenário atual? E o que lhe motiva a continuar investindo tempo, energia e dinheiro nesse projeto?

Mhario Lincoln: O maior desafio é manter a integridade em meio à superficialidade que tomou parte da maioria da comunicação literária atual. Enquanto muitos caçam cliques, o Facetubes busca consciência. Trabalhar 16 horas por dia para garantir que a informação seja tratada com respeito não é fácil, mas é necessário. E o que me move não é o lucro — é o propósito. Como diz em João 15:16, “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi”. Sinto-me escolhido para essa missão, e sigo com a convicção de que a cultura, o conhecimento e a verdade ainda têm lugar no coração das pessoas.


6 Esmeralda Costa – Você é um grande Embaixador da Paz. Como se deu esse reconhecimento e como a literatura pode ser um instrumento de transformação social e de promoção da paz?

Mhario Lincoln: Esse reconhecimento não veio de discursos, mas de atitudes. Sempre fui movido pelo princípio de que a paz não se impõe — ela se constrói, palavra por palavra, gesto por gesto. Receber o título de Embaixador da Paz foi uma honra, mas, mais que isso, foi uma confirmação de que vale a pena trabalhar em silêncio, com honestidade. A literatura é o meu campo de batalha e de bênçãos. Por meio dela, falo ao outro, acolho, denuncio, educo e indico rumos. 


7 Esmeralda Costa – Sua trajetória é marcada por muitas conquistas e reconhecimentos. Qual o maior desafio que você já enfrentou em sua carreira e qual a maior lição que aprendeu?

Mhario Lincoln: O maior desafio foi manter a serenidade diante das injustiças — especialmente quando fui desacreditado, desmerecido ou traído por aqueles que ajudei. No entanto, aprendi com os filósofos estoicos que a dor é parte da formação do caráter. Sêneca escreveu: "Dificuldades fortalecem a mente, assim como o trabalho fortalece o corpo." A maior lição que levo é que nunca se perde fazendo o bem. O bem não exige aplausos, ele se basta. E quando plantado com verdade, ele floresce — mesmo que seja no silêncio de uma noite escura.

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Raimunda Pinheiro de Souza FrazãoHá 2 semanas São José de Ribamar Parabéns Mhario Lincoln! Parabéns Esmeralda Costa!
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